sexta-feira, 15 de dezembro de 2017

Celebração do centenário de nascimento do diplomata Jorge d’Escragnolle


Celebração do centenário de nascimento do diplomata Jorge d’Escragnolle

Por Thiago de Menezes *


Nascido no Rio de Janeiro em 15 de dezembro de 1917, e falecido também na cidade maravilhosa em 3 de novembro de 1996, o fidalgo diplomata Jorge d’Escragnolle Taunay, celebraria hoje, 15 de dezembro de 2017, cem anos de idade se estivesse vivo.


Segundo seu filho, o diplomata Raul d’Escragnolle Taunay “a forma sincera como narrou nos escritos que nos deixou suas conversas, quando jovem, com o então chanceler Oswaldo Aranha, e os fatos que anteciparam a sua entrada no Itamaraty, permanecem como um apelo de consciência para os homens laboriosos e probos que defendem e defenderão os interesses brasileiros no presente e no futuro. Com o encanto pessoal que foi uma de suas grandes forças e a bondade de coração e espírito, foi meu pai não apenas um diplomata sólido e confiável, mas um homem que soube preservar seu lado amoroso, um pai que gostava de cozinhar, de levar os filhos ao futebol, de exibir sua estrondosa capacidade de compreender o mundo e suas complexidades”.

Ao lado de sua esposa, Mary Elizabeth Penna e Costa d’Escragnolle Taunay, também professora graduada, Jorge Taunay carregou pelos quatro cantos do mundo sua numerosa prole (Jorge Filho, Raul, Maria do Rosário, Pedro Paulo, Pedro Henrique, Ricardo e Laura). Destes, três tornaram-se diplomatas, influenciados por seu compromisso inquebrantável de servir a nação brasileira por todos os meios e com todas as forças, como no caso em que ele, a custo de seu sacrifício pessoal, manteve aberta a embaixada do Brasil em Beirute, onde permaneceu por três longos anos durante a mais violenta guerra. Por diversas vezes o Itamaraty consultou-o se era o caso de fechar a embaixada, e a sua resposta foi sempre a mesma: - “sem a embaixada, como ficarão as comunidades brasileiras neste país? Desamparadas?”. Jorge d’Escragnolle Taunay jamais fechou a embaixada, mesmo sozinho no Posto, assim como jamais fechou seu coração para as necessidades alheias.


Jorge d’Escragnolle Taunay Filho, também diplomata sempre demonstrou espírito público e dedicação à defesa dos interesses do Brasil e dos brasileiros. Tanto em Brasília, como subsecretário-geral para a América do Sul, quanto como embaixador em Luanda, Lima e junto à Organização Internacional de Aviação Civil, em Montreal, deixou marca inconfundível de suas qualidades pessoais e profissionais. Entre seus postos, foi Ministro de Primeira Classe do Quadro Especial da Carreira de Diplomata do Ministério das Relações Exteriores, da Delegação Permanente do Brasil junto à Organização de Aviação Civil Internacional, em Montreal. Em 2016, o governo da Comunidade da Dominica concedeu agrément a Jorge d'Escragnolle Taunay Filho (falecido em Lima, Peru em novembro de 2017), como embaixador extraordinário e plenipotenciário do Brasil naquele país. Enquanto o irmão Pedro Paulo d’Escragnolle-Taunay servia como conselheiro na Embaixada do Brasil em Portugal, tendo atuado no setor de Promoção Comercial e em assuntos do turismo da mesma.


O outro filho diplomata e também literato, Raul d’Escragnolle Taunay, cumpriu bela trajetória diplomática, na qual destacam-se etapas em diversos postos no exterior (embaixadas e consulados), onde exerceu funções políticas, comerciais, culturais e administrativas, permanentes e transitórias, subordinadas ou de chefia, no Brasil e no mundo. Resumindo, trabalhou na Bolívia, em Angola, na Índia, na Venezuela, na Guiana Francesa, na França, nos Emirados Árabes Unidos, na então Tchecoslováquia, no Egito, em Cabo Verde, na Itália (Milão), na Tunísia, em Porto Rico, em Moçambique, na Itália novamente (Roma), no Zimbábue, no Malaui, nos Camarões, na Guiné Equatorial, na Líbia, na Coreia do Norte, em Honduras, no Gabão e na Malásia. Na Secretaria de Estado das Relações Exteriores, em Brasília, desempenhou funções no Departamento Geral de Administração, no Departamento de Promoção Comercial, na Secretaria-geral das Relações Exteriores, no Departamento de Ciência e Tecnologia, no Departamento do Oriente Próximo, no Departamento da África e na Assessoria de Relações com o Congresso do Gabinete do Ministro de Estado. No âmbito de sua progressão funcional, graduou-se no Curso de Aperfeiçoamento de Diplomatas do IRBr, em 1982, e pós graduou-se no Curso de Altos Estudos do IRBr, em 1996, quando defendeu a tese intitulada: O Fenômeno da Emigração Brasileira: Uma contribuição às Práticas de Apoio e Proteção. Ascendeu a todos os escalões da carreira diplomática – terceiro-secretário, segundo-secretário, primeiro-secretário, conselheiro, ministro de segunda classe – sendo promovido, por merecimento, ao topo da pirâmide da carrière – ministro de primeira classe/embaixador, em 2009. Nesse mesmo ano, pelo papel desempenhado no processo de pacificação do Zimbábue, a presidência da República outorgou-lhe a Grã-Cruz da Ordem de Rio Branco.


É fato que o DNA artístico da família Taunay vem de longa data. Tudo começou com Nicolas-Antoine Taunay, que fez parte da Missão Francesa de 1816, quando os primeiros artistas europeus chegaram ao Brasil. Nicolas aprendeu o ofício de pintor com Jacques Louis-David e foi professor de Jean-Baptiste Debret, que documentou os costumes do país com muita propriedade. A linhagem artística não parou por aí. Um dos filhos de Nicolas, Felix-Emile Taunay, tornou-se filósofo e atuou como professor do Imperador Dom Pedro II. Felix, então, teve como herdeiro Alfredo Maria Adriano d’Escragnolle, que viria a ser o conhecido Visconde de Taunay, importante escritor do século 19, autor de “Inocência”, uma das principais obras do romantismo brasileiro.


Jorge Taunay, descendente direto de Alfredo Maria Adriano d'Escragnolle Taunay, primeiro e único visconde de Taunay (um dos fundadores da Academia Brasileira de Letras), morreu dormindo em seu apartamento na Rua Domingos Ferreira, em Copacabana, no Rio de Janeiro, depois de ter vivido uma vida plena e sem mágoas. Disseram, na ocasião, que seu rosto sem vida resplandecia com um belo sorriso.


A Associação dos Diplomatas Brasileiros (ADB), organização sem fins lucrativos que representa os funcionários brasileiros da carreira de diplomata, presidida pela Embaixadora Vitoria Alice Cleaver, o homenageará no próximo Boletim da ADB editando artigo a seu respeito. Associo-me a essa efeméride lembrando a figura ímpar e inolvidável de um homem a quem a diplomacia brasileira muito deve e respeita.

(Imagens: Divulgações – Acervo Família Taunay)


* Thiago de Menezes (menezes.turismo@gmail.com) – Jornalista (MTB 0038494/RJ) e escritor especializado em Turismo e credenciado pela EMBRATUR. Adido de Imprensa da ACONBRAS – Associação dos Cônsules no Brasil e membro da AIERJ – Associação de Imprensa do Estado do Rio de Janeiro.


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